3 de abril de 2013

Língua Brasileira de Sinais e Saúde: ação em saúde para os surdos de Juiz de Fora

No dia 22 de março tive mais uma experiência nova em relação a surdez: fiz entrevistas médicas em língua de sinais com pacientes surdos.

Na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), fui um dos idealizadores do projeto “Libras e saúde:  acessibilidade no atendimento clínico", que é uma parceria entre o comitê local da International Federation of Medical Students Associations of Brazil (IFMSA-Brazil), o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Diversidade (NEPED), a Faculdade de Medicina da UFJF, da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) e o Centro de Ensino de Cultura e Educação em Libras (Cecel). Este projeto, no início, era um curso de extensão, nos moldes do projeto da IFMSA-Brazil "Libras em Saúde" . No entanto, a adesão ao curso foi significativa, e ele cresceu: atualmente a primeira turma já finalizou o módulo 3, e o módulo 1 festá na sua terceira turma. Além disso, hoje ele transformou-se em um projeto de extensão mais complexo, dentro do qual está contemplado o curso de Libras.
Como atividade de conclusão dos módulos 2 e 3, cujo foco é o atendimento em saúde, os alunos (dentre os quais eu me incluo) desenvolveram uma Ação em Saúde no dia 22 de março na Associação dos Surdos de Juiz de Fora. Esta ação contemplava os seguintes pontos de atendimento:

     ·         Entrevista médica
     ·         Aferição de glicose
     ·         Cálculo do IMC
     ·         Exame de acuidade visual
     ·         Aferimento da pressão arterial
     ·         Orientações finais

A proposta era usar exclusivamente a língua de sinais como meio de comunicação. Era expressamente proibido usar o português, mesmo com aquelas pessoas que eram oralisadas. Desta forma tivemos a oportunidade de colocar em prática o que aprendemos e oferecemos aos surdos presentes a chance de serem atendidos usando a Libras.
Quais foram os resultados?



Todos se mostraram satisfeitos com a iniciativa e apoiaram a nossa ação, que contou com cerca de 20 pessoas surdas. Notei que os surdos, ao se comunicarem comigo, tinham muita preocupação em sinalizar de forma mais pausada, e quando sabiam, usavam a língua portuguesa oral. Isto provavelmente é consequência das experiências ruins que já tiveram em consultas médicas anteriores, e o medo de não serem compreendidos. Além disso, a prática me chamou a atenção para pequenos detalhes que fazem toda a diferença durante uma consulta com um paciente surdo, e que muitas vezes são negligenciados. Por exemplo, esperar o paciente acabar de falar para depois fazer as anotações, diferente do que a maioria dos médicos faz hoje (mal olham para o paciente durante seu relato).
E durante a ação, ouvimos várias histórias. E algumas chamaram bastante a nossa atenção, principalmente a minha que já havia lido alguns relatos em artigos científicos. Dentre eles, um homem, pai de família, por volta dos seus 40 anos de idade, relatou NUNCA ter realizado qualquer tipo de exame médico (nem mesmo um simples hemograma), por jamais ter conseguido se comunicar com o médico. E outra história foi o relato de uma mulher, por volta dos seus 40 anos também, relatou sofrer uma dor constante e já há algum tempo na região dos ovários. Apesar de ter ido ao médico, ela não sabe relatar o que tem, pois não compreendeu o que este disse. E então, ela continua sofrendo com um problema desconhecido, podendo até ser um ovário policístico.


Em suma, esta ação me permitiu sentir na pele como é atender um paciente surdo e ensinou-me como este atendimento deve ser feito. Além disso, com o relato de histórias que são inaceitáveis, a meu ver, estou com mis vontade de continuar com o projeto e expandi-lo ainda mais.
Se você possui algum relato sobre problemas durante consultas em saúde (médico, dentista, fisioterapeuta etc) ou gostaria de deixar sua opinião sobre a nossa cão, fique a vontade para deixar seu recado.


Um comentário:

  1. #Boa tarde!

    Sou Acadêmica de Enfermagem da UFJF do 1º Período e tenho alguma experiência com LIBRAS, não na Saúde ainda, mas gostaria de saber como faço para participar do completo aprendizado de LIBRAS na Universidade e como faço para participar dessa ação que é completamente essencial. Por favor entre em contato comigo no email: larissatereza@hotmail.com; obrigada!!

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